Trabalhos da Pastoral

Publicado em 02/03/2010
Pastoral Carcerária trabalha na reabilitação de ex-detentos

Através do desenvolvimento de noções de cidadania e evangelização entre os presos, a pastoral oferece um novo caminho a quem já não tem esperanças


Há 20 anos em Londrina, a Pastoral Carcerária vem realizando trabalhos de inclusão social de ex-detentos e de acompanhamento daqueles que ainda estão reféns das grades pelos crimes que cometeram. O trabalho, que envolve a colaboração e apoio de toda a sociedade, ainda esbarra em diversas barreiras, principalmente a do preconceito, que impede que a atuação da pastoral seja ainda mais eficaz.
Diretamente ligada à igreja católica, a pastoral desenvolve trabalhos de evangelização e conscientização entre os detentos, e disponibiliza materiais básicos de higiene pessoal e alimentação para todas as unidades carcerárias da cidade. Com o apoio da comunidade para a doação de roupas, alimentos e outros materiais, a pastoral encara problemas de falta de pessoal e dificuldade de encontrar pessoas dispostas a fazerem as doações.


O coordenador da Pastoral em Londrina, Railson José César Cardoso, conta que a tarefa de inclusão de ex-detentos no mercado de trabalho e na sociedade em geral ainda é muito complexa. Segundo ele, muitas dessas pessoas estão dispostas a começar uma nova vida, porém, como não têm capacitação profissional e têm uma história marcada pelo crime, elas não conseguem espaço. Cardoso afirma “a pastoral sabe que eles erraram, mas precisam ter uma nova chance”, e completa “muitos querem sair de lá e querem uma nova oportunidade. Então a sociedade tem que abrir a cabeça em relação a isso, porque se eles não tiverem oportunidade, eles vão voltar pro crime”.


Mesmo com o acompanhamento dado pela Pastoral através de telefonemas e aconselhamento, Cardoso diz que os projetos de reabilitação ainda precisam de verbas para que sejam implantados programas de capacitação profissional, e até mesmo para que seja construída uma estrutura para acolher aqueles que conseguiram a liberdade. Ele não nega que, além do apoio da comunidade, também precisa do incentivo dos poderes públicos.


A equipe formada hoje por 10 voluntários ainda é pequena para o tamanho da demanda na cidade, e também tem de enfrentar o preconceito das pessoas. O coordenador afirma que, quando diz que o trabalho é desenvolvido entre os presos, muitas pessoas desistem de ajudar e acabam se afastando. “A sociedade tem que deixar de lado os preconceitos e o falso moralismo e dar oportunidade para eles”, reforça ele.
Segundo o Padre a Paróquia Nossa Senhora Aparecida, Edivan Pedro dos Santos, nomeado pelo Bispo de Londrina para acompanhar os trabalhos da Pastoral Carcerária, a principal atividade exercida por eles é de evangelização e presença dentro dos presídios. Santos ressalta a importância de escutar o que os presos têm a dizer e oferecer a eles uma nova esperança através de atenção e boa vontade.


O padre não deixa de acreditar que a própria sociedade é responsável por essa realidade, uma vez que seleciona algumas pessoas e empurra outras para a marginalidade. Por isso, afirma que é dever, também da sociedade, oferecer condições para que essas pessoas possam voltar ao convívio social e profissional. “Nosso modelo condena esses homens e essas mulheres duas vezes. É condenado pelo sistema social e pelo sistema legal”, confirma.


Santos ainda afirma que o trabalho não é fácil, mas que é recompensante quando um ex-detento vem até eles simplesmente para agradecer. “O trabalho tem resultado quando vc vê no rosto desses homens e mulheres o brilho por ter encontrado um novo caminho”, comemora, e afirma que a mudança de vida para eles é totalmente possível.
Karina Giorgiani

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Pastoral Carcerária: amor e dedicação

Com todos as dificuldades e preconceitos que enfrenta, a pastoral já construiu uma história de muitas realizações


Com uma estrutura que já existe há 20 anos, a Pastoral Carcerária conquistou reconhecimento e respeito entre as unidades carcerárias, entre os detentos e seus familiares e até mesmo na legislação, que assegura todos os seus direitos de atuação. Entretanto, a pastoral ainda busca o reconhecimento e colaboração de vários setores da sociedade.
Segundo o coordenador da Pastoral durante o ano passado, Railson José César Cardoso, o objetivo da pastoral é conscientizar as pessoas a respeito de sua realidade e incentivá-las a buscar algo melhor. Porém, além disso, existe todo um trabalho social, que consiste em proporcionar aos presos, melhores condições dentro das cadeias. Entre elas, estão a preocupação com alimentação, saúde e bem estar. Cardoso conta que recebe muitos bilhetes dos detentos, que pedem coisas como roupas, calçados, doces e outros artigos pessoais.
No entanto, Cardoso reconhece que ajuda não deve ser somente material, mas também espiritual e psicológica. “A palavra vem acompanhada do material, procuramos fazer essas duas coisas juntas”. Ele diz que o sentimento que tem com relação ao trabalho é de alegria e frustração ao mesmo tempo. “A tristeza é em relação à nossa impotência, porque são muitos presos em Londrina e a necessidade deles é muito grande. E a alegria é de acompanhá-los e depois nos encontramos nas ruas e eles contam que conseguiram sair e estão trabalhando”, relata.
Apesar do que pode ser entendido, o Padre Edivan Pedro dos Santos, nomeado para acompanhar os trabalhos da Pastoral carcerária, diz que a pastoral não vai aos presídios para fazer visita, e sim para evangelizar. “A pastoral é a presença da igreja e de Cristo junto aos encarcerados”, confirma.
Ele conta que os trabalhos são desenvolvidos nas dimensões religiosa, social e jurídica, sendo que esta última ainda precisa do apoio de pessoas especializadas na área. O contato com os detentos é realizado no pátio das penitenciárias, e o convite é estendido a todos que quiserem participar, sem que haja separação de pessoas ou obrigatoriedade. A evangelização acontece através de músicas, teatros, estudos da palavra, além das missas e confissões.

O padre conta que muitas vezes vai até as unidades carcerárias e volta indignado com a realidade que encontra, pois na maioria das vezes, o governo tenta apenas remediar uma situação que é fruto das relações socais. Ele acredita que as pessoas têm uma boa expectativa de que os presos sejam recuperados de seus crimes, mas esse sentimento se sustenta até que algo aconteça com elas ou próximo de seus familiares e amigos.

Santos afirma que, apesar dos problemas, se sente muito satisfeito por estar levando uma mensagem de amor para essas pessoas. Ele se alegra com isso e afirma que “a resposta é muito positiva. Eles estavam longe, e agora o convite é diferente. O convite é para voltar”.

Karina Giorgiani